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domingo, 21 de maio de 2017

Como Dirigir uma Peça de Teatro - Parte 2

Continuando a saga... (se você não viu a primeira parte, leia aqui)

Nesta postagem, vou continuar a narrar minha saga no meu primeiro ensaio como diretor teatral, citando algumas dicas e teorias dentro do texto. 

Claro que, se você já leu bastante coisa do blog, sabe que eu vou vou falar um monte de baboseira, e narrar as aventuras, mas no meio disso tudo (acho que) você consegue retirar algumas coisas boas para se fazer (ou coisas para não se fazer também). Não me tenham como exemplo: sou apenas alguém normal que sabe que quase não sabe nada de teatro, mas se aventura a escrever como se soubesse bastante coisa. (E ainda me acho humilde, acima de tudo, rs) Enfim, acho que já tá bom de introdução, 'bora começar a nada boa aventura. 

"Previously on... Como Dirigir uma Peça de Teatro"

Como disse, cheguei ao primeiro ensaio com dois desesperos (texto e atriz) e uma omissão grave. Quer dizer, antes, recebi um aviso pelo facebook que uma das atrizes (a que eu conheço e que não é meu desespero) não iria. Mas como "the show must go on" eu não me amedrontei e confirmei presença com a atriz desespero profissa para o primeiro ensaio. 

Então, deixe-me atualizar: cheguei ao primeiro ensaio com 3 desesperos (texto, atriz profissa, e sozinho só com ela) e uma grave omissão. 

Cheguei, como sempre, uns 5 min antes do horário (odeio atrasar e odeio atraso). Já fiquei feliz pela atriz também não ter chegado atrasada. Chegou em cima do horário e logo nos pomos a trabalho. O nosso local de ensaio há muito não era utilizado e, por esta razão, tivemos que dar uma limpadinha antes. Foram uns 15-20min a menos de ensaio para limpeza. (E aqui está a primeira dica = se não quer perder tempo de ensaio, que o local já esteja pronto antes do horário marcado para ensaio. Em teatro amador, ou estudantil, cada minuto de ensaio conta. E nunca temos tempo suficiente de ensaio, ou seja, não adianta marcar 4-6 horas de ensaio, porque seus atores não vivem disso. Não são profissionais de teatro, que o ensaio é seu ofício. Por isto, aproveitem cada minuto de ensaio, chegando mais cedo e saindo mais tarde).

Depois dessa limpezinha, sentamos eu e ela, diretor com atriz, para então quebrar o gelo (pois eu não a conhecia ainda). Mas não só por isto, também para falar um pouco do projeto que eu estou querendo fazer, do texto (abordando no geral, sem dar mtos spoilers) e alguns motivos que me levaram a propor isto para elas. Eu acho significativo ser sincero para seus parceiros de trabalho, pois você precisa dos atores para que seu projeto de espetáculo seja executado. Mesmo se forem alunos ou crianças. Eles reconhecem com isso que você não vai ser um chefe chato, mas um líder que vai dirigi-los para um resultado final (mesmo que, no caso, o resultado não seja o que você tenha sonhado. Por isto não ponha tanta expectativa nem perfeccionismo em cima do projeto. Você pode se frustrar e virar um tirano no meio do processo e começar a comandar para que atinjam o seu grau de perfeição. Cuidado!) 

Conversei com ela por um tempinho, até que enfim, começamos o ensaio. 

Quem lê o blog deve já suspeitar como iniciei o ensaio: aquecimento, treinamento e ensaio. 

Sim. Acertou. 

Mas tem um porém nisso que eu aprendi. E depois lhes conto. 

Comecei com a parte de aquecimento: alongamento da atriz. Depois um aquecimento mais geral, pedi para que andasse no espaço de acordo com o ritmo (peguei um pedaço de pau e fiquei batendo no chão, ditando um ritmo no qual ela seguiria com o passo dela. Se eu batesse com o pau no chão rapidamente, ditando um ritmo mais rápido, ela deveria andar mais rapido, até mesmo correr. Se eu deixasse o ritmo de batida mais espaçado, mais lento, ela deveria andar devagar, quase parando). Este exercício eu gosto dele pois trabalha a concentração e também já a energia corporal - aquece e deixa o corpo preparado. Depois passei pro exercício de articulações (que já descrevi milhares de vezes pelo blog - quem não sabe, procure por posts mais antigos) e neste eu também usei a questão do pau para ditar o ritmo do moviemento corporal enquanto fazia o exercício. (Posteriormente, ela chamou o exercício de "dança corporal"). 

Após este dois exercícios para aquecer o corpo e o deixar mais pronto para começar as improvisações, eis que eu entro em desespero (sim, a omissão se revelou nesta hora, pois eu percebi a burrada que eu fiz, ou melhor, não fiz). Percebi, naquele momento, que eu deveria já ter alguns exercícios para ensaio prontos. Alguns exercícios previamente já pensados, alguns exercícios plano B (caso o primeiro não funcionasse) e até mais de um exercício... O caso é que eu paralizei e fiquei cru na frente da atriz. 

Confesso que eu não sou a melhor pessoa do mundo, não sou perfeito, estou aprendendo na prática com estas burradas das boas. Na hora o que eu fiz? Aproveitei que ela era profissa e pedi ajuda. "O que fazer agora? Como dirigir?" Ela  me sugeriu que eu propusesse alguma situação, algum problema, alguma coisa  que eu já tivesse em mente. Mas eu não tinha nada em mente! Mentira, eu tinha sim. Era uma idéia besta de um misè-en-scene que eu idealizei enquanto tentava solucionar o problema do texto na questão de dividí-lo em ações. Foi então que, sem tempo pra pensar, tive que tentar arranjar alguma proposta viável para a atriz não ficar sem fazer nada. E aquele silêncio constrangedor já estava me amedrontando... 

Foi então que, a primeira proposta foi... um tiro no escuro. Falei bem inocentemente "improvise sobre o verbo vestir" E ela ficou meio abobada com o que eu quis dizer... Será que eu me fiz de idiota na frente dela? Bem, acho que sim. Mas ela foi me ajudando também (graçazadeus!) e comentando que, ela poderia improvisar de várias maneiras tão genéricas que poderia ser muito diferente do que eu tinha em mente. Ela poderia improvisar uma mulher vestindo, um velho vestindo, um animal vestindo, um alien vestindo... faltava uma linha de partida (um contexto) para ela entender quem era ela (ela = personagem/performer). Foi neste estalo que eu prontamente disse: "okay, começar pelo personagem" E então, antes de improvisar a ação da personagem, fomos improvisar afim de encontrar a personagem. Mas como? Qual seria o ponto de partida para a atriz encontrar a personagem - isso pq eu não tinha passado pra ela o texto dramático para ela ver. Ela não sabia qual a intenção ou cena idealizada eu tinha na cabeça. E, pra falar a verdade, eu queria testar uma direção que a atriz encontrasse a personagem seja qual fosse, não que eu falasse "você é tal personagem, assim assim assado". Este fato é algo que eu quis tentar, experimentar para ver se funcionava. Mas continuemos a narração... 

Seguidamente pedi para ela que voltasse ao exercício das articulações e, quando encontrasse algum movimento interessante, transformasse esse movimento abstrato em personagem. E lá fomos nós improvisar movimentos corporais para encontrar a corporificação da personagem da peça. Ela  o fez extraordinariamente muito bem, entendeu a minha sugestão de guiamento e o fez sem reclamar. Estava lá dançando/articulando-se e quando um movimento era interessante eu pedia para transformar em personagem, para usar dos movimentos principais da dança e aperfeiçoá-los dentro de uma corporificação de futura personagem. 

Particularmente, foi uma experiência muito interessante ver os atributos físicos de um possível personagem surgir de um exercício de movimentos aleatórios. Metaforicamente é como rabiscar num papel branco e do rabisco você encontrar linhas que podem sugerir uma imagem figurativa, ou seja, você nunca sabe que desenho vai surgir com o rabisco. As vezes é um desenho legal, mas as vezes é uma merda. E sempre é um desenho diferente. Só que ela faz isso com o movimento do corpo. É bem bacana. E disto, devo como diretor, limpar e deixar mais artístico, dentro do conceito da peça. 

Enfim, voltando à narrativa. Ela estava experimentando uma corporificação para uma personagem, e quando eu achei interessante, eu passei a sugerir que esta personagem agisse em outras situações. Joguei dois objetos na frente dela e disse: "você está indecisa sobre qual objeto você quer pegar" e com isto, todo o jogo se transformou, pois dei um objetivo para a personagem perseguir. Ela criou, de acordo com o corpo da personagem, um jeito de ficar indecisa corporalmente... É, é, é... pensando agora, acho que fiz merda e só percebi agora enquanto escrevo este post... hahaha.. Ficar indeciso é muito subjetivo, não é uma ação, é algo emocional... E, quando se joga coisas emocionais para o ator improvisar, pode ficar meio... só na cabeça e não exposto fisicamente. Estão me entendendo? Embora, agora me lembro, na hora eu gostei, pois ela fisicalizou (fisicalizou=tornou físico) o "estar indeciso" - mas pode ser que atores inexperientes possam cair no clichê e ficar naquela indecisão de desenho animado. Enfim... 

Eu sei que esta improvisação, que ainda era sobre criar a corporificação da personagem, foi demais longa e acabou durando todo o ensaio. Quando vi, já tinha dado a hora combinada de terminar o ensaio, e a meu ver, não se tinha produzido nada ainda. Era como se este primeiro ensaio não tivesse ocorrido, ou fosse o ensaio numero zero, pois com ele que eu aprendi muito mais coisas e que no próximo eu pretendo me melhorar. 

Uma destas coisa que aprendi com este pseudo-primeiro ensaio (ou ensaio numero zero) foi sobre aquele momento de desespero que passei: 1) nunca chegue no ensaio sem uma gama de exercícios prontos em cima do texto. Tenha alguns na manga, caso as tentativas sejam falhas. 

Também abstraí e entendi o problema deste primeiro ensaio. Eu quis começar desde a criação da persaongem pela via da improvisação do ator. Algo que, agora entendo, é demorado pakas! Se eu continuasse a levar os ensaios dessa maneira, talvez em dezembro do ano que vem eu terminasse essa pequena cena que pretendo fazer com elas. Então o que eu aprendi foi: 2) dentro do limite de tempo planejado para os ensaios, não enrole na direção. (Não enrolar significa: não escreva um livro quando você tem que fazer uma síntese. Eu bem sei que eu AMO escrever demais, e não sou nada bom com coisas sucintas, breves, práticas, objetivas. Porém, para uma cena que pretendo fazer em 1 mês eu não devo partir desde a improvisação do caminhar do personagem. Devo ser mais ligeiro, mesmo que passando por cima dos meus paradigmas teatrais, e correr nos ensaios, já passando algo geral, já dando um parecer, já me adiantando com o ator, para ele saber o que eu quero dele.)

Estes aprendizados sobre a direção teatral só foram possíveis também pois aprendi muito com essa atriz "profissa" que está me ajudando muito e sendo quase uma professora. Humilde, sem neuras sobre ser dirigida por alguém menos experientes, super de boa em passar o que ela sabe. E não hesita em manter o profissionalismo, mesmo que talvez o resultado não seja o esperado.

.....

Escrevo agora de 2017... mil anos depois desse "ensaio zero"

Os ensaios não aconteceram... tiveram contratempos meus, das atrizes, enfim....

Estes ensaios aconteceram em dezembro de 2014... é faz um bom tempo mesmo! (meldels!)

Achei esta postagem rascunhada da época em que fiz, então até que tem boas impressões do ensaio ocorrido.

Depois desse tempo, não fiz mais nada com o teatro... embora tenha amigos atores, professores-mestres-doutores em teatro, amadores dessa foram de arte.

Todos os comentários são lidos, e caso eu receba alguns emails de vez em nunca, eu os leio com carinho e respondo dentro do meu limite.

Espero que vocês que lêem o blog e o consultam sempre, continuem levando essa forma de arte com carinho, dedicação e diversão. Pois o teatro é uma forma de arte temporal, única, que se forma na sua frente qndo vc menos espera ^^

Ah, vou postar mais pro futuro alguns links de peças de um grupo de teatro português que eu AMO e que me apaixonei qndo os vi pela primeira vez... foi paixão a primeira vista...mas vou deixar o post agendado tá (caso eu esquecer de entrar no blog) ;)

UPDATE: Post dos Videos agendado para Agosto-2017 =D

Merda pra vcs!!!