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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Como Dirigir uma Peça de Teatro - O Início

 Existe um termo que traduz meu sentimento para com o teatro = INSISTIMENTO

Eu insisto, apesar de saber que meus dias de glória meus dias de teatro já se passaram. Adoro quando recebo emails de leitores que buscam ajuda, ou que estão insistindo no teatro. E sim, leio todos os comentários tbm... heheh

Aliás, na minha própria cidade de interior eu achei uma 'insistidora teatral' muito determinada. Fico mto contente por saber que existem pessoas que lutam pela cultura, pelo teatro, mais que eu na verdade.

Bem, mas chega de blablablá e vamos ao que interessa para o blog-diário:

"Como Dirigir uma Peça de Teatro"

Eu bem sei que este é um termo que talvez trouxe você, leitor(a), aqui. Eu sei porque eu também procurei no google esse mesmo termo e me pergunte se eu achei alguma coisa? Achei nada! Então tive que recorrer aos universitários (ex-universitários de artes cênicas na verdade). E livros. E sites. E acreditar muito na minha intuição também. E botar a cara a tapa pra ver o que vai dar.

Neste post vou comentar a minha saga (teórica) de como ajeitar as coisas antes de chegar ao primeiro ensaio. E também vou descrever a minha saga (prática) do que eu fiz antes de chegar ao primeiro ensaio.

Como sabem (ou vão saber) já faz tempo que não mexo com nada relacionado ao teatro. Desde última vez, que eu realizei aquela oficina com meus amigos, eu não fiz mais nada. Mas eis que surgiu uma oportunidade neste mês de dezembro e cá estou para dividir minha tentativa de direção teatral com vocês.

Uma coisa já aviso: Isso tudo pode não dar nada certo. Até pq, o certo não existe no teatro. Não tem o jeito certo de fazer. Existe apenas o fazer. (frase que os universitários me disseram).

-----------(INICIO DA PARTE TEORICA)------------

"Então como é que se faz isso, produção?"

Após ter escolhido o que você pretende transformar em algo apresentável - um texto dramático, uma poesia, uma reportagem, um pedaço do seu diário, uma frase, um microconto do twitter, etc... Você, como diretor/responsavel da peça deve se fazer algumas perguntinhas - talvez óbvias demais e que nem mesmo eu me liguei de me perguntar:

1) Qual é o objetivo que me leva a querer fazer essa peça? 
1.a) Vale a pena montá-la?
2) Para quem é essa espetáculo? 
3) Qual é o objetivo do texto? Do autor do texto para com o texto? 
4) Qual são as capacidades/habilidades dos meus atores? 
4..a) É uma peça em que eu posso trabalhar/realizar uma experiencia criativa para todos os envolvidos?
5) Será divertido/satisfatório montá-la? 

Estas perguntas devem permear a mente do diretor antes de levar a proposta da peça para o grupo/atores. Até para servir de justificativa para caso seja questionado: "mas por que essa peça?".

Depois disso, o diretor/encenador deve fazer uma análise do texto. Essa análise servirá como base do futuro espetáculo que está para vir. Esta análise é tanto criativa como racional, pois servirá como guia para os ensaios, propostas de exercícios e todo o resto da produção até a apresentação. 

Bem, "Mas como se faz essa análise do texto?" 

Digamos que esta é a parte criativa do diretor para com a peça. É nesta análise sobre o texto, sobre o grupo, sobre tudo que envolverá a realização do espetáculo, que o diretor exerce a sua criatividade e define como será o espetáculo. Mas calma lá - não vá sonhando com as marcações nem entonações das vozes ou qual ator se encaixa em qual personagem. Muita calma nessa hora. 

O diretor deve fazer esta análise considerando mais o texto (ou processo criativo do qual surgirá o texto dramático) e fazer a sua "interpretação" do texto. Deverá racionalizar sobre qual o objetivo do texto, qual o enfoque que o autor quis dar com o texto, qual a função de cada personagem, quais possíveis temas, reflexões o texto traz - e outra série de coisas que podem ser aproveitadas.
A partir daí poderá também definir (ou ainda não) qual a estética da peça, qual o possível espaço que esta peça será apresentada (se de rua, de palco, de espaços alternativos, etc), qual tema poderá abordar como um todo... Esta é a parte criativa do diretor, no qual ele vai idealizar a peça. 

Existe uma técnica interessante neste ponto do processo criativo do diretor, que ajuda-o a como passar a sua intenção da peça para os atores durante os ensaios. De modo geral, esta tecnica se resume a 1) leia o texto inteiro e o compreenda cada parte; 2) divida o texto/peça em cenas ou pulsações mínimas, pequenas partes do todo; 3) divida estas pequenas cenas em frações mais mínimas, dissecando-a até chegar ao átomo da cena (que você vai descobrir ser as ações e intenções dxs personagens).

Chegando no átomo da cena, a ação dxs personagens em cena, este será o caminho para a construção das cenas pelos atores... Este átomo da cena converterá em propostas/problemas que o diretor dará aos atores para que eles solucionem (representando/atuando/improvisando) para que a peça se desenvolva e torne uma linda produção teatral. 

Em teoria, este é o início do trabalho do diretor antes mesmo de começar os ensaios. Ele deve já ter um objetivo (ou um vislumbre do objetivo) que quer alcançar e trazer consigo propostas de ensaio (exercícios, jogos) para fazer os atores atingir esse objetivo que ele idealizou. 

Percebam aqui que em nenhum momento eu cogitei em escrever "imaginem a peça dos seus sonhos" pois, lamento informar, o que você tiver idealizado muito provavelmente será difícil de atingir 100% idêntico ao da sua imaginação. Transpor um ideal de uma peça para a sua produção concreta não é uma tarefa fácil. Haverão impecilhos - atores fracos, falta de equipamento técnico, problemas de equipe, etc. - mil coisas que a Lady Lei de Murphy provavelmente vai ajudar acontecer. 

Não quero ter que dizer "Não ouse imaginar a peça sendo feita", mas você como diretor/entendido teatral sabe que se for para a peça ser exatamente como você sonhou, você terá que ser aquele diretor tirano, autoritário, que manda o ator fazer tintim por tintim, andar até ali, fazer tal pose, fazer aquela expressão de gato de botas, e o seu ator não vai passar de uma marionete para você brincar. Aconselho ir brincar de The Sims que é mais garantida a satisfação. 

O diretor/encenador deverá ser o líder do grupo (neste momento, claro) em que o grupo/atores deverão confiar cegamente que ele guiará para uma produção de algo que valerá a pena ser apresentada (ou senão qual o motivo de você estar fazendo isso?) 
E como líder, deverá conduzir os atores através de propostas/problemas dentro do contexto da peça para que os atores consigam criar a parte deles dentro da produção. Deixe que os atores atuem, enquanto você os guia em direção ao resultado que você sabe qual é. Não faça o trabalho do ator (que é representar/atuar/criar em cena) e nem deixe que o ator faça a sua parte (que é de encaminhar a atuação deles para o melhor resultado possível dentro da proposta que você idealizou). 

Bem, sabendo disso, você tem meio caminho andado para dirigir uma peça de teatro (ou até menos de meio caminho, talvez 1/3 do caminho...) É, ainda tem muita coisa por vir. Os ensaios ainda não começaram. 

------------- (INICIO DA PARTE PRATICA)---------

Lidando com a oportunidade de vir a ter outra experiência teatral, não tardei em começar minha busca teórica por material para eu conseguir trabalhar. 

Inicialmente meu objetivo era apenas me divertir fazendo teatro, ao invés de ficar mofando em casa. Tá, eu sei que é um objetivo péssimo para começar algo, mas isso acontece nas melhores famílias (ou como dizem, "em casa de ferreiro, o espeto é de pau"). 

E bem, foi por isto que o meu começo foi uma droga bem ruim. Queria apenas um texto fácil para trabalhar em algo rápido e sem dificuldades. Mas e eu consigo? Mesmo após escolher um miniconto, eu o abandonei e retirei algumas reflexões do meu diário íntimo, converti em frases de efeito (quase uma poesia) e 'bora tentar fazer a tal análise do texto!!! 

Mas quem disse que eu consegui? Minhas reflexões (meu texto) não sugere nenhuma cena, nenhuma ação, nada. Parece texto de auto-ajuda e que eu quero transformar em peça (ou como eu sugeri, em algo apresentável). E este foi o meu primeiro desespero (ainda havia outro por vir). 

Recorri aos universítários, como disse (meus amigos ex-universitários de artes cênicas - muito úteis quando eu não sei como fazer alguma coisa ou preciso de ajuda urgente) e deles recebi apenas incentivo e um "te vira, mané". Nem mesmo o google me ajudou muito neste sentido (confesso, tive medo de aparecer este meu blog nas respostas do google =P ). Por fim, me voltei aos livros que eu tenho. E um em particular - "Improvisação para o Teatro" da Viola Spolin - que eu sabia que tinham dicas mais práticas para o diretor. (obs: já citei-a muitas vezes no blog, ela estuda jogos teatrais e este livro tem milhares de jogos e dicas principalmente para quem trabalha com crianças. Vale a compra). 

Peguei o livro e o li nas partes grifadas que tenho, mas nada que eu já não suspeitava e que não tivesse pensado. O meu problema é o maldito texto que eu escolhi para transpor em peça, pois ele ainda está bem difícil de analisar. Foi então que, com ajuda, fui questionado às perguntas que listei acima (e que não tinha respondido ainda). Me foi abordado a seguinte pergunta: "Onde exatamente você quer chegar com esse trabalho ou texto?" E cataplufe, eis que a moeda caiu. Eu não tinha pensado nisso. O que eu quero com este texto? O que me levou a escolhê-lo? Como posso traduzir o sentimento do autor do texto (no caso eu) e o objetivo com o qual ele escreveu o texto (por isso eu peguei um texto meu) para um algo apresentável? Qual o tema/palavra-chave/assunto do texto que eu quero que a platéia sinta com a tradução para algo cênico? E destas indagações/análise racional sobre o texto que eu fui aos poucos conseguindo ter um vislumbre do que poderia ser apresentado. Até mesmo qual seria a estética da peça. Consegui, enfim, idealizar várias maneiras em o que texto poderia ser convertido em cena. 

E assim, mais tranquilo agora, conseguiria partir para meu primeiro ensaio. 

Mas eis que, cometi uma omissão que me atrapalhou no primeiro ensaio (fica para os próximos capítulos da saga), e apresentou-se o meu segundo desespero: uma atriz nova do grupo entende mais de teatro e direção teatral que eu (Ela é estudada, profissa, graduada). E agora, José? 

Confesso humildemente: caguei nas calças de medo. Como dirigir uma atriz profissa sendo que eu não passo de um amador sem muitas experiências??? Ela pareceu simpática, mas... Seria mesmo? Será que não vai ser uma vaca metida mimada que não recebe direção de alguém de menos experiência que ela? E como saber das habilidades dela... (lembram que comentei, conhecer as habilidades/capacidades dos atores) Realmente, eu estou numa enrascada! Não tenho a mínima noção do que ela sabe fazer, do comportamento dela, da humildade dela. 

Eis que um amigo meu cita: "Se ela for daquelas atrizes mimadas e metidas, tu ta fodido. Se não for, é tranqs". 

E foi assim que, com estes dois desesperos (texto e atriz) e uma omissão grave (duvido se alguém adivinha qual é) eu cheguei no primeiro ensaio.

Continua... 

-----------(FIM DA PARTE PRATICA)------------

Para quem acompanha o blog (que eu sei não ser mto difícil acompanhá-lo pois ele está há um tempinho jogado num canto da websfera) esta saga de "Como Dirigir uma Peça de Teatro" será de curta temporada, durando apenas o mês de dezembro/2014 e talvez janeiro/2015 (ainda não sei). 

Então, caso queiram, comentem neste post, me ajudem com suas experiências também, perguntem, tirem suas dúvidas, elogiem, xinguem, enfim... façam um auê enquanto eu estiver online na ativa. 

Depois, o blog voltará ao seu período de hibernação e só Deus sabe quando voltarei a escrever neste meu diário online - que ao que parece, ajuda alguns. 

Então é isso. Abraços e Beijos. E muita Merda para quem tá na ativa. 

Até o próximo post.

UPDATE: Veja a continuação desta história clicando aqui