Barra das Guias

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Um fim...

E a descrição do último post foi a última coisa teatral que fiz desde 2011. De lá, até agora em 2013 eu não mais mexi com teatro nem cursos, nem montagens, nem leituras. Ainda sou um apaixonado pelo fazer teatral, mas essa minha paixão se estende somente à apreciar as diversas peças e montagens que acontecem na minha cidade/região. Agora mexo com arte de uma outra forma que também me preenche. Segui adiante me enamorando por outra vertente que também mexe com arte. Um outro tipo de arte. Mas isso já é mais pessoal. 

Terminarei meu diário de aula de teatro por aqui. Foi bom enquanto durou. Por vezes posso voltar, um dia, quem sabe, a vir a atualizá-lo, mas não garanto. Foram quase 02 anos de teatro que me fizeram muito bem, mas é hora de deixar este blog para vocês que por vezes visitam e o lêem e relêem. O blog permanecerá na internet para aqueles que precisam de um guia amador na net. Não o apagarei. Apenas torço para que ele vos sirva assim como me serviu um dia. E que vocês, leitores, sigam fazendo o que o coração pede, treinando e ensaiando e praticando e, quem sabe, até mesmo lendo e aprendendo mais sobre a vasta teoria teatral existente - e que já mencionei mtas vezes aqui no decorrer do blog. 

E não desistam mediante nenhum comentário sobre o que vocês fazem - se vocês tem vontade e disciplina, sigam firmes. Aprendam mais e mais, mesmo se não puderem/conseguirem fazer um curso de teatro profissional ou graduação, leiam e leiam e leiam. Pois somente com conteúdo podemos rebater as críticas negativas daqueles que não conhecem a arte do fazer teatral. 

E deixo para vocês a melhor síntese (minha opinião) do que é o fazer teatral. Conforme Burnier (2009) cita (cf. Peter Brook, 1977): "(..) para que a ação tetral possa ser esboçada são fundamentais três elementos: o espaço vazio, o espectador (alguém que observa esse espaço) e o ator (alguém que cruza e, portanto, desenvolve uma ação nesse espaço). Esses três itens compõe (...) a célula da arte teatral, sua menor partícula viva." 

MERDA para vocês!!! 

Obs: quem quiser conversar sobre teatro ou qualquer coisa relacionada, meu email é glvila_cp@yahoo.com.br - e ponham como assunto do email algo relacionado à ao blog ou teatro, senão nem responderei.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

After a long time...

Olá pessoas que por ventura ainda vêm aqui checar se tem novidades... Agradeço os poucos comentários que consegui  ( 12 comentários em + de 2 ano) e vim aqui registrar minha sumida e alguns motivos...
- Desde meu último post (ago/2011) eu continuei com a minha turminha de teatro até o final do ano em que fizemos uma pequena apresentação (10min) de uma adaptação do conto A cigarra e a Formiga. Segue o poster que fiz na época:


- E apesar de ser de uma fábula, o fiz seguindo algumas técnicas arcaicas teatrais - adaptando a fabula para um Canovaccio (fiz intuitivamente). Canovaccio é uma estrutura teatral muito simples, que vem desde o século XV aproximadamente (teatro medieval) (fonte: wikipedia). O Canovaccio tbm foi mto utilizado como base dramática da commedia dell'arte. (um dos estilos teatrais que me influenciou bastante). Segue o esquema de um Canovaccio que fiz para adaptação desta fábula:

A Cigarra e as Formigas
 
Canovaccio
 
1 – É primavera, sem cigarras, as formigas se reúnem e começam as buscas para procurar os alimentos para o estoque. Atravessam a mata, alegres, trabalhando. Pegam e voltam para casa.
 
2 – É verão. As cigarras estão à toa, vagabundeando. Ao som das formigas, as cigarras se escondem e armam uma traquinagem para roubar comida das trabalhadoras, que fogem apavoradas.
 
3 – É outono. As formigas ainda continuam sua saga de pegar folha por folha, em um trabalho mecânico e esforçado. As cigarras além de tirar sarro delas, ainda roubam alguns alimentos e atrapalham-nas em seu trabalho.
 
4 ­– É inverno e as formigas não aparecem. As cigarras ficam perdidas, pois onde estarão as formigas com a comida? E em busca das formigas, acham-nas todas juntas desfrutando de calor e alimentos. As cigarras pedem um pouco de misericórdia, um pouco de pão, mas as formigas tiram sarro dela e deixam-nas morrer de frio. 
Também fiz, após este canovaccio, uma misè-en-scene básica (misè-en-scene refere-se à movimentação e posicionamento no palco, bem como,no sete de filmagem [fonte: yahoo respostas]). Segue a misè-en-scene para vocês entenderem como foi a peça: 

Misè en Scene
 
1 – Formigas começam de fora do palco a murmurar a música dos Sete Anões, marcando o ritmo com os pés. Segue entrando no palco com a voz cantando e os passos leves, em fila indiana, atravessando de uma lado para o outro o palco – de coxia à coxia. Pegam os alimentos do outro lado da coxia e atravessam novamente com os alimentos segurados sobre a cabeça até o ponto de partida desta cena.
 
2 – As cigarras entram ao palco cada qual a seu modo, chutando o ar, sem nada a fazer. Encontram-se uma a outra, trocam cumprimentos e escutam as formigas iniciando a música de fora do palco. As cigarras, cada uma vai à um canto frontal do palco e deitadas, ficam a esperar as formigas passar. As formigas atravessam o palco para pegar comida.
            As cigarras levantam-se, cochicham-se ao ouvidos e vão ao outro canto do palco esperar que as formigas venham. Ao as formigas entrarem, as cigarras começam a cantam a ciranda para roubar a comida das formigas.
            Com a ciranda, as cigarras destroem a fila indiana e encurralam as pequenas dentro de uma roda, onde roubam os alimentos e então expulsam-nas do palco para a coxia.
            As cigarras, alegres e rindo, saem pela outra coxia, comendo.
 
3 -  As formigas entram (sussurrando a música) em fila indiana, porém ficam enfileiradas e começam a cantar (formiguinha pega folha e carrega) e fazem esse trabalho mecânico até todas as folhas sejam pegas.
            As cigarras aparecem cada qual de um lado da coxia e cantam sua parte (veja só que trabalho horroroso, a formiguinha tá fazendo muito esforço). Então entram e vão roubando e atrapalhando o trabalho da formiguinha, que ficam perdidas até que saem com o que conseguem levar, se juntando em coro. As cigarras ficam no palco.
 
4 ­– As cigarras põe o cachecol em torno do pescoço e tremendo, começam a esperar pelas formiguinhas entrarem. Em vão. Então começam a passar fome e sentir fracas. Então começam a cantar “pejúrias” para as formigas, até que estas aparecem ( 2ª estrofe) e respondem todas, cantando a 3ª e 4ª estrofe da música – que é a resposta para a cigarra.
Ao finalizarem a música, as cigarras caem congeladas (morrem de frio) e as formigas congelam em coro.
Com as palmas, todas levantam-se e de mãos dadas vão para a frente do palco e agradecem ao público. E saem como formiguinhas, com as duas cigarras por último, dançando e pulando atrás das formiguinhas. 

- Para ajudar na fixação do texto dramático, utilizei uma técnica básica: a paródia musical sobre as músicas folclóricas/cantigas de roda/popular brasileira. utilizei as músicas: Eu vou, Eu vou (Sete Anões), Ciranda-Cirandinha, A Formiguinha pega Folha e Carrega, A Barata diz que tem.  
- Parodiei - junto com as alunas - estas cantigas para se adequarem ao texto dramático. 

Segue um texto em que resumi e apresentei a montagem teatral para divulgação, na época: 

As Cigarras e As Formigas
Montagem teatral baseada na Fábula
 
                Durante as três estações que antecedem ao inverno, as formigas se esforçam em trabalhar, alegres e contentes, para estocar seus mantimentos. As cigarras, ao contrário, além de serem afobadas e esfomeadas, só atrapalham as formigas. Ao fim, as formigas condenam a falta de disciplina da cigarra, deixando-as congelar.
                A montagem cênica conta a história da tradicional fábula de Ésopo, reinterpretada para uma mensagem contemporânea de que o esforço e disciplina valem a pena. Esta nova interpretação da fábula permite a interpretação da sociedade, em que a procrastinação não é o melhor jeito de se viver, mas que a garra e vontade em trabalhar – alegre e feliz no que se faz – é que traz à vida um propósito.
                Partindo do pressuposto de que um teatro infantil deve possuir uma linguagem acessível para o público ao qual se destina, a peça foi elaborada com uma estética que permite ao público, além da empatia, também a imaginação: utiliza-se da ausência de figurino convencional, porém simbolista, e do espaço vazio – em referência ao teatrólogo Peter Brook – para que ocorra a “magia” do teatro, que é preenchê-lo com vida. 
                O processo de montagem também contou com o esforço grupal, permitindo que se diga que foi feita “por e para crianças”. 

No primeiro e segundo parágrafo eu apenas explico a peça e o objetivo dela. Bem simples, básico, objetivo até demais. No terceiro parágrafo, para nós aprendizes de teatro, a parte mais interessante: Linguagem acessível às crianças = teatro é fantasia, e por fantasia segue a imaginação. Logo, neste teatro, não contei com um figurino rígido e literal de formiga e cigarra. Utilizei um arquinho com arames com bolinhas nas pontas para fazer as formigas (e um figurino pretinho básico de bailarina) e para as cigarras, eu cortei uma camiseta grande doada e pintei com tinta de tecido em listras, em que minhas duas cigarras utilizaram por cima do pretinho básico. Só isso. 

Ainda no terceiro parágrafo, evoco o "espaço vazio" do Peter Brook - referencia direta ao "the carpet show" (mais conteúdo sobre peter brook and the carpet show aqui e aqui) em que (explicando em linhas gerais e rápidas) a magia do teatro só acontece dentro de um limite físico consensual entre público e atores - no caso do Peter era o limite do tapete. No meu caso, eu usei fita adesiva no chão que delimitava o espaço de "dentro e fora do palco". Ou seja, as coxias não existiam, o que existe é o limite desenhado no chão entre "ali é onde eu viro personagem" e o "aqui fora eu sou um ator fora do palco" (e o público vendo essa transição na sua frente). 

Optei por esta estética por achar que utilizar as coxias para o ator sair de cena é algo tão tradicional e "clichê" e que eu poderia apresentar para o público que o teatro acontece assim, magicamente na sua frente, se vc tiver imaginação e entendimento de que aquele limite desenhado no chão é o lugar onde a arte teatral realmente acontece. 

E no útlimo paragrafo eu digo que foi feito "por e para crianças", porque foi verdade: as minhas alunas que criaram toda a atuação e movimentação. Elas me ajudaram a parodiar as cantigas de roda (e, logicamente, escrever o texto dramático). Elas que trouxeram o figurino básico e ajudaram a fazer os demais. Elas ajudaram em toda a criação do espetáculo. E elas fizeram de um jeito que elas se divertiam.

- Mas para não parecer que só de rosas é trabalhar com crianças e adolescente, teve momentos de problemas. 

1) crianças mto pequenas e o ensaio: ensaiar repetidamente uma cena ou uma cantiga de roda parodiada era cansativo e desgastante para elas. Muitas ficavam chateadas por não "brincarmos" mais e só ficarmos repetindo e repetindo. 

2) adolescentes acharam a peça mto infantil demais - e muitas vezes questionavam ou não apareciam ou atrapalhavam. 

O que fiz? separei crianças pequenas e menores para serem as formiguinhas e trabalhar com um personagem de modo coletivo. Utilizei para elas o treinamento de coro (teatro grego) para trabalharem juntas, cantarem juntas, serem juntas uma personagem só: "as formiguinhas". 

Para 02 garotas maiores, fiz-las serem "as cigarras". foi um papel de destaque, confesso, mas elas eram as mais dedicadas do grupo e disciplinadas. Uma era tímida e a outra agitada. Trabalhei a extroversão na tímida através de jogos teatrais da Viola Spolin e outros daqui do blog. 

Para outras 04 adolescentes que não queriam ser formigas, tive que interferi na misè-en-scene e acrescentar algo na montagem fora do padrão tradicional de apresentação - começo meio e fim sem interferencias. Para estas somarem na apresentaçãoo (e não ficarem de fora) eu acrescentei na montagem umas inteferencias narrativas - provindas do meu entendimento super-basico do estilo teatral Épico do teatrólogo Bertolt Brecht. Como o fiz? Meu entendimento sobre brecht se dá na interferência da peça para trazer o público para a realidade no meio da peça (como um intervalo da novela na tv - metaforizando). Imagine que vc vendo a novela está tão em fluxo assistindo que esquece até que horas são. Ao adentrar um elemento de interferencia - o intervalo na TV - a gnt volta à realidade e percebe que já ta tarde, o arroz queimou e estas coisas. 
No teatro e cinema, normalmente não existem tais interrupções. Somos levados em fluxo pela narrativa do começo ao fim, sem sentir que aquele filme/peça tinha 2horas de duração. Ao utilizar da interferencia, eu trago o publico de volta à realidade de "estar assistindo a uma montagem teatral" e isto o faz refletir sobre o "fazer teatral" que está ocorrendo na sua frente, ao vivo, aqui e agora. O público sai do assistir passivamente e começa a pensar ativamente que aquilo ali é uma arte efêmera, criada no momento presente, em frente a seus olhos. 

Com isto, estas adolescentes, além de serem as "contra-regra" da montagem (ajudando com alguns elementos da peça", a cada passagem de uma cena para outra, elas entravam e declamavam uma rima poética sobre a cena que viria ser apresentada a seguir. No caso desta peça elas anunciavam as estações do ano, fazendo a transição de tempo que existe na fábula. 

Assim todas elas participaram da apresentação final, que durou por volta de 10 min. 

Não era uma montagem ultra grande pois eu tinha restrição de tempo, e meus ensaios foram corridos e curtos. Comecei o ensaio uns 2 meses antes. Tive muito medo e receio de ficar uma droga e ninguém entendesse o motivo de ser simples. Tenho a impressão que de muitos pais podem ter achado a peça bem pobre, simples, básica e não digna de ser chamada de teatro. Mas para meu parceiro que me foi meu assessor cênico (ele é graduado em Artes Cênicas pela UEL) - a peça teve mais empenho e base construtiva que a apresentação seguinte (foram 2 apresentações no dia, esta montagem e um balé baseado n'O Mágico de Oz) que teve todos os clichês e trabalho tradicional - figurinos literais de cada um dos personagens principais, objetos cênicos literais, cenários e mto custo e orçamento. 

E bem, de certo modo, consegui apresentar uma peça que me agradou profundamente, pois foi construída com base, com motivos, e seguindo a máxima do "Teatro Pobre" de Grotowski (ver mandamento nº 2) . A peça teve o essencial para alcançar seu objetivo. Foi simples, sucinta, objetiva e nem por isto perdeu o encanto de ver crianças de 04 a 09 anos cantando e atuando sozinhas no palco. Meu objetivo como apreciador da arte teatral teve seu ponto máximo com esta montagem que desenvolvi.